Nesta parte, vamos falar do tratamento com remédios que alteram a atividade dos fatores da coagulação. Atualmente essas drogas são muito usadas em pessoas que tiveram tromboses venosas, embolia pulmonar, arritmias cardíacas que podem levar a formação de trombos no coração, pacientes com doenças em artérias que levam a obstrução das mesmas e diversas outras formas de trombose. Atualmente vários medicamentos estão em desenvolvimento e logo deverão levar a um grande avanço no tratamento domiciliar das tromboses com segurança. Hoje, contudo, poucos medicamentos são amplamente utilizados.
As heparinas (principalmente as chamadas de baixo peso molecular) são amplamente utilizadas com boa margem de segurança (ou seja, com baixo risco de complicações com o seu uso se comparados aos benefícios que elas podem proporcionar). Por isso, esse medicamento tem sido utilizado inclusive para tratar pacientes com trombose em casa, sem necessidade de interná-los com esta finalidade.
No entanto, nem todo paciente pode ser tratado desde o inicio da trombose em casa. Existe um grupo de pacientes que deverá internar (não para aumentar a eficácia do tratamento, mas para ser monitorado de forma contínua) devido a um risco maior de complicação da própria trombose ou da anticoagulação. Por isso, não existe como prever quem terá de ser internado ou não, questão que só poderá ser definida pelo médico ao avaliar o paciente.
Ocorre que, se por um lado a heparina é uma boa droga para o tratamento da trombose, por outro lado, apresenta problemas tais como o meio de aplicação. É que ainda não existe no mercado uma heparina que possa ser dada como comprimido, pois as formulações atuais exigem que sejam ministradas em injeções subcutâneas (debaixo da pele) com agulha pequena e fina (assim como a da insulina). Isso exige que o paciente aprenda a se auto aplicar (ou peça para que alguém faça a aplicação), fato que costuma causar desconforto durante a aplicação.
Além disso, no local da aplicação pode aparecer um hematoma, que surge em caso de rompimento de um pequeno vaso. Nessa situação, o medicamento fará que o sangramento deste vaso rompido dure mais tempo e por isso apareça um hematoma. Os hematomas cutâneos não costumam gerar problemas sérios de saúde, porém poderão incomodar esteticamente ou até fazer com que o local fique dolorido.
O desconforto causado pelas contínuas aplicações (meses ou até anos), muitas vezes faz com que o paciente desista do tratamento e é a principal causa de reaparecimento de novas tromboses ou complicações da mesma. Atualmente, os medicamentos mais utilizados no tratamento da trombose e que causam menos desconforto são os inibidores de vitamina K (cumadin e varfarina são amplamente utilizados). Esses medicamentos inibem o aproveitamento da vitamina K pelo fígado para que sejam produzidos vários dos fatores da coagulação. Com isso, o sangue tem mais dificuldade de coagular e formar trombos.No entanto, se por um lado esses medicamentos tem a vantagem de serem comprimidos, por outro lado tem a desvantagem da dificuldade de controle, já que podem sofrer influencia de diversos fatores, tais como:
1) Quantidade de vitamina K que ingerimos – se ingerimos mais vitamina K precisamos de maior quantidade do medicamento para inibi-la, se ingerimos alimentos com menor quantidade de vitamina K, precisamos de menor quantidade de medicamento para inibi-la. Essa questão é importante, por que se ingerimos alimentos com quantidades variadas de vitamina K nos diferentes dias, a dose prescrita pode ser superior a necessária, caso em que a dificuldade de coagulação do sangue pode aumentar o risco de sangramentos ou a dose prescrita pode ser inferior a necessária, caso em que o medicamento não conseguirá agir de forma eficaz e o paciente pode desenvolver um novo evento de trombose.
Daí a importância de manter a mesma quantidade de vitamina K todo dia. Os alimentos que contém pouca vitamina k são livres na dieta, já os demais devem ser controlados no seguinte padrão: Se durante o dia você comer mais alimentos com grande quantidade da vitamina K, a noite coma apenas aqueles que tem menor quantidade (e vice-versa). Se você alimentar-se com aqueles que têm moderada quantidade da vitamina K, pode comer de manhã e de noite.
Não há necessidade de pesar ou calcular, basta seguir o bom senso e fazer de forma aproximada. Assim, se você come a mesma quantidade de alimentos com vitamina K, terá um comportamento mais homogêneo da anticoagulação, com menos riscos de sangramentos ou de novas tromboses, facilitando o ajuste da dose do medicamento pelo médico. É importante que você não deixe de ingerir alimentos com vitamina K todo dia. Veja abaixo uma tabela com alimentos e sua quantidade de vitamina K.
Alguns alimentos ou medicamentos naturais podem interferir muito na anticoagulação, tais como o alho, que só deve ser utilizado em quantidade para tempero (não usar muito), pois aumenta o efeito do anticoagulante.
Os chamados medicamentos naturais (incluindo chás) também podem alterar a coagulação (entre eles o Gincobiloba, a Geiko entre outros) e causar sangramentos. Por isso antes de fazer uso de um medicamento natural converse com seu médico (por mais inocente que o produto possa parecer).
Outras dicas importantes para quem faz uso de anticoagulantes:
1) Tome o medicamento na dose que o médico orientar, não faça ajustes por conta própria (se necessário consulte o seu médico).
2) Tome o seu remédio todo dia preferencialmente no mesmo horário.
3) Não faça uso de AAS (aspirina), Sonrisal, aqueles medicamentos que são descritos como contra indicados no caso de suspeita de dengue ou anti-inflamatórios, a menos que o seu médico saiba e o oriente a fazê-lo. O somatório da ação destes medicamentos com o anticoagulante pode aumentar o risco de ocorrer um sangramento.
4) Sempre que for iniciar um medicamento novo, converse com o seu médico sobre a possibilidade dele interferir com a coagulação.
5) Esteja ciente de que todos os medicamentos (mesmo aqueles que não tem descrição em bula de interferência com os inibidores de vitamina k) podem interferir de alguma forma com a anticoagulação. Assim, é aconselhável que ao iniciar ou interromper um medicamento novo (de uso contínuo), seja feita uma medição da anticoagulação para verificar se houve ou não alteração. O exame de sangue utilizado para avaliar o efeito do anticoagulante (inibidor de vitamina k) na coagulação do sangue é o Tempo de Atividade de Protrombina, cujo resultado é expresso no INR.
Atualmente, existem pequenos equipamentos portáteis para avaliar o INR em casa (igual ao utilizado para medir a glicose em diabéticos), basta uma gota do sangue que pode ser da ponta do dedo. A vantagem deste equipamento é que o exame pode ser feito a qualquer hora e o resultado é imediato. Esses equipamentos têm se mostrado muito fieis ao resultado. No entanto, devido a falta de concorrência no mercado (em alguns países) o custo do aparelho ainda é elevado.
Conforme mencionamos anteriormente, novos anticoagulantes em comprimido estão sendo desenvolvidos pela indústria farmacêutica, trazendo como principal vantagem a desnecessidade de adaptação da dieta e aumentando o intervalo entre os exames de sangue para avaliar o nível de anticoagulação. No entanto, para que estes medicamentos possam ser amplamente utilizados, devem passar pelo crivo da ANVISA, o que pode levar algum tempo.
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| Medidor de INR |
Atualmente, existem pequenos equipamentos portáteis para avaliar o INR em casa (igual ao utilizado para medir a glicose em diabéticos), basta uma gota do sangue que pode ser da ponta do dedo. A vantagem deste equipamento é que o exame pode ser feito a qualquer hora e o resultado é imediato. Esses equipamentos têm se mostrado muito fieis ao resultado. No entanto, devido a falta de concorrência no mercado (em alguns países) o custo do aparelho ainda é elevado.
Conforme mencionamos anteriormente, novos anticoagulantes em comprimido estão sendo desenvolvidos pela indústria farmacêutica, trazendo como principal vantagem a desnecessidade de adaptação da dieta e aumentando o intervalo entre os exames de sangue para avaliar o nível de anticoagulação. No entanto, para que estes medicamentos possam ser amplamente utilizados, devem passar pelo crivo da ANVISA, o que pode levar algum tempo.


