11 de dez. de 2011

Perguntas Frequentes 1


O meu marido tem um tromboflebite na perna. Hoje foi medir o INR. O que significa ter INR 1?

No século XVIII, ocorreu o primeiro passo para estudar a coagulação. Este passo foi ver o que fazia o sangue coagular quando nos cortávamos. Pesquisadores pegaram ratos, retiraram o cérebro deles, trituraram e injetaram em outros camundongos saudáveis. Na verdade, o que eles queriam saber era se o tecido humano podia estimular a coagulação. O que aconteceu com os ratos? Bem, em todos o sangue coagulou na veia.

A partir dessa idéia foram criados dois exames da coagulação: O TAP (Tempo de Protrombina Ativado) e o PTT (Tempo Parcial de Tromboplastina). Estes exames consistiam em colocar em um tubo de ensaio, extrato de cérebro (no TAP) e  outros estimulantes da coagulação (no PTT).

Os exames passaram a ser utilizados para várias situações, da seguinte forma: Colocavam o extrato do cérebro em tubo de ensaio junto com o sangue do paciente e viam quanto tempo o sangue demorava para coagular, e, após, pegavam uma nova amostra de extrato do cérebro, em outro tubo de ensaio, e nela misturavam com o sangue de uma pessoa sabidamente com coagulação normal e esperavam coagular. A partir daí era feita uma conta simples:

Tempo que o paciente demorava a coagular dividido pelo Tempo que a pessoa sabidamente normal demorava a coagular.

Assim, se o valor fosse igual a 1, significava que os dois tinham uma coagulação normal. Se o valor fosse abaixo de 1, significava que o sangue coagulava mais rápido (não necessariamente que teria trombose, mas provavelmente sangraria menos, caso se ferisse do que a pessoa que foi usada como padrão normal), e caso fosse acima de 1, era o inverso, significava que coagulava mais lentamente.

O PTT funciona da mesma forma, só que em vez de usar extrato de cérebro utilizava outro reagente.

No momento em que esses exames passaram a ser utilizados em grande escala (inclusive para acompanhar a anticoagulação), começaram a surgir dificuldades. Uma delas foi no TAP,  pois observaram que se a mesma pessoa fizesse o exame em 2 laboratórios diferentes, ao mesmo tempo, poderia ter 2 resultados diferentes. A justificativa foi que o extrato de cérebro (geralmente utilizado de boi vindo de matadores para açougue) era de animais de raças diferentes com características diferentes, ou seja, cada lote de extrato poderia agir de uma forma no sangue do indivíduo. Assim, se eu utilizasse 2 lotes diferentes, teria 2 resultados diferentes.

Então, a OMS - Organização Mundial de Saúde, resolveu criar um lote, o qual chamou de 1 (contendo extrato de cérebro armazenado).  Assim, todos os laboratórios ao produzirem seus lotes devem comprar uma amostra do lote da OMS para comparar a potência entre os lotes (do laboratório e da OMS). Após a comparação o laboratório cria um cálculo para ajuste, seguindo regras específicas. Desta forma, quando o laboratório faz seu TAP ele mostra a relação paciente/controle - logo após alguns mostram o ISI (que na verdade é o ajuste após fazer comparação da potência dos extratos) e por fim, o INR que é esse resultado ajustado, de tal forma que o resultado seja igual em todos os laboratórios onde o paciente faça o exame.

Ou seja, o INR mostra ao médico se o seu sangue está coagulando mais rápido ou devagar em relação ao sangue do laboratório, de forma que possa ser reproduzível se for feito ao mesmo tempo em mais de um laboratório.

Vale lembrar que o INR pode variar durante o dia. Assim, você pode ter resultados diferentes se fizer o exame em um laboratório pela manhã e em outro a tarde.

Não utilize qualquer medicamento sem indicação médica.

 
Gostaria de saber quais os fatores que levam a tromboflebite. Suspeito estar grávida e preciso saber quais os riscos que estou correndo. O que posso fazer se a gravidez for confirmada?

Assim como a trombose venosa, a tromboflebite ocorre quando o sangue coagula formando trombos dentro da veia. Porém, na tromboflebite a veia é periférica, ou seja, de pequeno calibre e longe da circulação central (onde podem ocorrer mais complicações).

No caso de tromboflebites, estas podem ser provocadas por injeções, medicações injetáveis ou outras causas adquiridas. Contudo, como na trombose venosa profunda, pode ocorrer por desequilíbrio da coagulação.

Se a tromboflebite ocorreu pós-injeção ou trauma importante na veia, provavelmente o paciente não precisará fazer uso de medicação para coagulação na gravidez. Porém, se a tromboflebite ocorreu sem razão conhecida, a gestante deve procurar o seu médico para que ele avalie quais fatores de risco associados ela apresenta (por exemplo: obesidade, hipertensão, diabetes, história de trombose na família, entre outras) e peça avaliem se existe ou não trombofilia (ou fatores de risco para trombose). Se o médico notar que a paciente tem fatores de risco suficientes no exame ou na consulta, deverá iniciar uma profilaxia para trombose.

A droga atualmente mais utilizada é a heparina, que apesar do desconforto que pode causar, mostra-se segura para a mãe e por não atravessar a placenta não afeta o bebê. Além disso, se a heparina for utilizada da forma correta, pode reduzir em muito o risco de trombose e embolia pulmonar (trombo no pulmão que pode levar a risco de vida), na mãe, na gravidez ou após, além de diminuir os riscos de perda fetal por trombose na placenta.

Estudos mostraram que a heparina, se suspensa na véspera do parto e reiniciada pouco após, não aumenta o risco de sangramentos durante o parto.

Não utilize qualquer medicamento sem indicação médica.

 
Estou fazendo tratamento para trombose há 1 mês. Posso viajar de avião?

Não existe estudo mostrando realmente quanto tempo o paciente necessita esperar antes de viajar de avião. Por isso, vale a pena consultar o médico.

O que podemos afirmar é que: (1) Se o trombo já tiver desaparecido e o paciente estiver usando anticoagulante da forma correta, com os níveis de anticoagulação corretos, não há problemas -  ainda mais por que atualmente os aviões são bem pressurizados,  reduzindo o risco de eventos hemorrágicos (por ruptura de vasos); (2) Se ainda existir trombo no exame, o médico deve avaliar a anticoagulação, indagar sobre a importância da viagem (para pesar riscos e benefícios) e analisar a localização do trombo antes de emitir sua opinião. Logo, na segunda hipótese, o risco deve ser avaliados caso a caso.

Não utilize qualquer medicamento sem indicação médica.

 
Sou jovem e sofri uma trombose. A ginecologista me receitou uma pílula anticoncepcional e gostaria de saber se esta pode interagir com o varfarin ou cumadin?

Atualmente sabe-se que os inibidores de vitamina K (varfarin e cumadin) sofrem interferência, em graus variados, causada pela maioria dos medicamentos.

Existem medicamentos em que a interferência é tão grande, que na bula o próprio fabricante alerta a respeito da interação, e neste caso, o medicamento deve ser evitado sempre que possível (lembrar que alguns medicamentos são imprescindíveis e não possuem substitutos).

Nos casos em que o fabricante nada menciona na bula, o uso do medicamento pode interferir, porém em menor grau. Assim, basta checar o INR alguns dias após iniciar o uso, e fazer ajuste na dose do anticoagulante para adaptar o uso concomitante (o mesmo deve ocorrer após a interrupção do medicamento).

No caso de uso de anticoncepcional após evento trombótico, vale a pena consultar o médico, já que o tema suscita muitas controvérsias.

Na verdade, o anticoncepcional pode ser usado por diversas razões. Se o uso for terapêutico para tratamento de alguma anomalidade hormonal importante (como hipogonadismo severo, rim policistico, entre outros), o risco e benefício do uso do anticoncepcional deve ser levado em consideração pelo médico. Se médico e paciente, de comum acordo, acharem que os benefícios suplantam os riscos, o medicamento deve ser usado. Neste caso, a preferência deve se dar pela menor dose necessária para obtenção dos efeitos desejados e a anticoagulação deve ser feita de forma bem rigorosa, de modo a evitar ao máximo que o paciente tenha períodos com anticoagulação abaixo dos padrões ideais.

No caso de anticoncepcionais, apenas para prevenção de gravidez, a preferência deve ser dada a outros mecanismos (barreira e DIU entre outros). Se não for possível utilizar outros métodos contraceptivos de forma eficaz, o médico deve ser consultado e em conjunto com o paciente deve discutir riscos e benefícios do uso do anticoncepcional.

Não utilize qualquer medicamento sem indicação médica.

 
Minha mãe tem câncer de ovário e está se submetendo a tratamento quimioterápico. Também foi descoberta a existência de trombose. O que posso fazer para tratar esta trombose?

O tratamento da trombose consiste no uso de medicamentos anticoagulantes. Os medicamentos e período de uso dependem de quão avançada está doença, qual a resposta do câncer ao tratamento, qual a medicação quimioterápica que esta em uso, se há ou não presença de fatores que contra indiquem o uso de anticoagulantes, e por fim, a possibilidade de adquirir os medicamentos.

Atualmente alguns grupos internacionais preconizam o uso domiciliar das heparinas de baixo peso (por sofrerem menos interferência de alimentos e medicamentos), no período da quimioterapia e após o término da quimioterapia a transição para os inibidores de vitamina K (varfarin ou cumadin). Porém, devido ao custo do medicamento, desconforto ou até devido a outras contra indicações para o uso da heparina prolongada, o uso inicial de heparina e transição rápida para inibidor de vitamina K pode ser uma opção viável (mesmo o paciente em uso de quimioterapia). 

Não utilize qualquer medicamento sem indicação médica.

 
Na infância coloquei uma prótese mecânica mitral e desde então tomo o varfarin. Durante estes anos não tive qualquer complicação.  Gostaria de saber se posso engravidar e quais riscos?

Neste caso a gravidez é considerada de maior risco para a mãe, e por isso deve ser muito bem pensada. Caso a decisão seja pela gravidez, alguns cuidados devem ser rigorosamente adotados:

1) Acompanhamento em centro especializado em gravidez de risco;

2) Caso a gravidez seja planejada, ao iniciar a tentativa (no caso da não planejada, assim que suspeitar - mesmo que não tenha sido confirmada), o uso de inibidor de vitamina K (cumadin  ou varfarina) deve ser imediatamente interrompido para tratamento com  heparina de baixo peso, em dose plena anticoagulante;

3) Durante toda a gravidez deve ser ministrada heparina de baixo peso, com acompanhamento médico rigoroso - a heparina não atravessa a barreira placentária, por isso não leva risco ao bebê diretamente;

4) A dose de heparina deve ser reduzida para dose profilática (inferior a terapêutica) 24 horas antes o parto. Logo após o parto, assim que possível, a dose deve ser aumentada para dose anticoagulante plena - isso significa que pode haver um sangramento maior no pós-parto, porém não necessariamente um que leve a risco de vida ou necessidade de transfusão.

Alerta: Em hipótese alguma as condutas acima devem ser tomadas por conta própria, principalmente por que no decorrer da gestação alguns fatores podem se alterar e influenciar o uso do medicamento. Por isso, o médico deverá acompanhar de perto a gestante.

Não utilize qualquer medicamento sem indicação médica.

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