22 de set. de 2011

Trombose


Não é possível saber se a trombose era um evento desconhecido ou apenas relegado a uma importância inferior. Isto por que, nenhum registro foi encontrado em escrituras, obras de arte e outros meios, tanto no Egito, Grécia, Pérsia, Roma como em antigas civilizações da América do Sul até o século XIII, data de um manuscrito que contem a descrição de um normando chamado Raoul Who, de 20 anos, que apresentou a perna inchada, cheia de feridas e curou-se após muita reza e exposição à poeira de túmulo sagrado.
 
Muito tempo se passou até a trombose ser novamente descrita. Somente no século XV, Ugo Benzi de Siena, descreveu a trombose venosa ocorrendo em um paciente de Navarro, chamado Jacobus Manni que já tinha uma doença prolongada acompanhada de febre.

No século XVI, Richard Wisherman identificou em puérperas um quadro de inchaço e alteração na cor das pernas. Porém, como não havia condições de se comprovar o que estava realmente acontecendo, a opinião religiosa predominou.

Assim, até o século XVIII, a trombose na gravidez era associada a tumores malignos nas pernas que determinavam o refluxo do sangue. Porém, grandes cientistas da época também tinham outras teorias menos ortodoxas, que podiam justificar o inchaço das gestantes e puérperas; e entre elas o acúmulo de leite não consumido era uma causa provável. Outro grande médico da época, Ambroise Parré, acreditava que a trombose era conseqüência da retenção de sangue menstrual nas pernas.

Ainda no século XVI, a trombose começou a ser melhor entendida. Em 1628, William Harvey demonstrou pela primeira vez a circulação do sangue (afinal, para se pensar em trombose, era importante imaginar que o sangue circulava pelo corpo).

Entre os séculos XVII e XIX, vários estudiosos substituíram a teoria de retenção, que até o momento era aceita, e criaram a hipótese atual de que a trombose é o entupimento do vaso sanguíneo por coágulos.

No século XIX, a coagulação e a trombose começaram a ser vistas com outros olhos. Neste caso, alguns nomes foram importantes e destes, podemos citar Rokianski (1852) e principalmente Rudolf Virchow (1860) que, de forma independente, apresentaram a famosa tríade, na qual a trombose era relacionada com a redução do fluxo sanguíneo, alteração na veia ou artéria e por fim, a mudança na composição do sangue.

Virchow, um médico alemão, colocando corpos estranhos dentro de veias localizadas nas patas de animais, verificou que, em alguns casos, estes migravam para o pulmão (e sugeriu que coágulos originados de veias de vários lugares no corpo poderiam migrar e entupir artérias do pulmão, o que atualmente chamamos de embolia pulmonar).
 
Assim temos um pouco da história das tromboses. Mas qual é o impacto da trombose no mundo? Na verdade o impacto é enorme, uma vez que, em países onde existe um registro para trombose (Estados Unidos, além de vários países da Europa) verificou-se que a trombose sozinha mata anualmente mais do que câncer de mama, AIDS e acidentes automobilísticos juntos. Um exemplo é os Estado Unidos: Nestes pais, estima-se anualmente, em torno de 97 mil mortes por acidentes automobilísticos, 43000 mortes em estradas, 17 mil mortes por AIDS e 40.000 mortes por câncer de mama (o que juntos somariam 197000 mortes). Por outro lado, só em mortes por embolia pulmonar estima-se ocorrer 200.000, e se associarmos as doenças coronarianas ou infartos (no qual ocorre trombose na coronária), este valor se eleva para 645.000 mortes por ano. Agora, se somarmos todos os eventos trombóticos, suas seqüelas, mortes e custo para os sistemas de saúde, estaremos falando de números enormes.

O grande problema está no fato de que as tromboses ocorrem em todas as especialidades médicas, razão pela qual o problema acaba se diluindo e por isso recebe menos importância do que deveria.

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